Levar os pequenos para o centro do processo de ensino e aprendizagem, seja na escola ou em casa, é uma das tendências mundiais da formação de cidadãos mais críticos e conscientes. Essa tarefa, no entanto, nem sempre passa apenas pelos manuais educacionais. Também é preciso exercitar a autonomia dos filhos durante as atividades mais corriqueiras do dia a dia.
As competências socioemocionais e o protagonismo da criança fazem parte, por exemplo, da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento que norteia toda a construção da Educação brasileira. Uma dessas competências é, justamente, a autonomia. O que não significa que os pais e educadores devem simplesmente “soltar as mãos” dos pequenos de uma vez. Para a consultora pedagógica do Sistema de Ensino Aprende Brasil, Ana Paula Silveira,
“às vezes, confundimos ser autônomo com fazer algo completamente sozinho. Isso é um erro. Autonomia não é fazer sozinho, mas fazer com consciência e senso crítico, compreendendo o que está sendo feito e por quê”. Ana Paula e Juliana Aparecida da Silva Alves, professora da rede municipal da Prefeitura do Recife e do curso de Pedagogia da Universidade Estácio de Sá do Recife, apontam cinco formas de estimular a verdadeira autonomia nas crianças.
Incentive as interações
Uma das principais funções da autonomia é permitir que as pessoas sejam personagens de ação. Ou seja, não basta existir no mundo e seguir as regras, é preciso que os indivíduos tentem dialogar com a realidade e modificar os cenários que os cercam. “É por meio dessas interações que a criança desenvolve relações de repertório de campo simbólico”, detalha Juliana.
Provoque a curiosidade
Embora a sociedade contemporânea esteja muito baseada no imediatismo – saiba agora, curta já, leia rápido -, é fundamental desenvolver, nas crianças, uma curiosidade que vá além do óbvio. “Nos estudos de Paulo Freire, ele fala sobre a importância de transformar a curiosidade ingênua em epistemológica. Isto é, a curiosidade que nos torna conscientes de nossa condição para que tenhamos o pensamento crítico da mudança”, diz Ana Paula.
Permita que as crianças escolham e que participem das escolhas que as afetam
Na idade em que está na Educação Infantil – até cinco anos de idade – um dos direitos que a criança tem é o de participar, como lembra Juliana. Esse direito não diz respeito apenas à participação ativa, como realizar uma atividade ou brincadeira, mas também deve se estender à participação nas escolhas que lhe dizem respeito. “Por exemplo, se eu, como adulto, planejei uma atividade na área externa e choveu, que tal colocar esse desafio para a criança e pedir a opinião dela sobre o que fazer?”, sugere. Naturalmente, essa escolha deve ficar restrita a pequenas decisões e não se aplica às grandes questões a respeito da vida da criança.
Faça perguntas
Uma das maneiras de trabalhar a autonomia é encorajar a oralidade infantil. Então, quando a criança apontar um objeto, em vez de entregá-lo a ela imediatamente, incentive-a a falar o nome do objeto. “Se a criança escolhe uma cor de lápis, por exemplo, você pode perguntar por que ela gosta daquela cor e tentar entender o que aquela escolha significa para ela. Falar sobre esses valores e representações pode ser um caminho para que elas pensem sobre as coisas e não apenas as reproduzam”, ensina Juliana.
Respeite o tempo da criança
Ana Paula lembra que, mesmo que o cotidiano seja corrido, é muito importante respeitar o tempo da criança e não impor a ela o tempo dos adultos. “Muitas vezes, fazemos uma pergunta e não temos paciência para esperar a resposta. O tempo deles é diferente do nosso e não devemos apressá-los”, finaliza.
Ana Paula Silveira e Juliana Aparecida da Silva Alves são as convidadas do episódio 51 do podcast PodAprender, produzido pela Aprende Brasil Educação, cujo tema é “Como ajudar os alunos a desenvolver autonomia no ambiente escolar?”. Todos os episódios do PodAprender estão disponíveis gratuitamente no site do Sistema de Ensino Aprende Brasil (sistemaaprendebrasil.com.br), nas plataformas Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e nos principais agregadores de podcasts do Brasil.